O setor automotivo foi atordoado neste início de 2021 com uma sequência de notícias negativas que representam menos renda, menos empregos, menos desenvolvimento e um impacto inimaginável em toda a cadeia de autopeças e serviços, inclusive para o polo metalmecânico da Serra Gaúcha.
Se antes eram baldes de água fria, nesta segunda-feira o anúncio soou como um oceano de interrogações a embaçar o horizonte de quem acredita que o ano tinha tudo para retomar o caminho da normalidade e do crescimento.
Sim, o cenário ganha dramaticidade extra com o anúncio da Ford, na tarde desta segunda-feira (11), de que fechará as plantas fabris em Camaçari, na Bahia; Taubaté, em São Paulo; e Horizonte, no Ceará, decisão que implicará na perda de 5 mil empregos. A justificativa da montadora para desligar as máquinas é a "persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas".
Inaugurada em 2001, a fábrica de Camaçari inicialmente estava prevista para Guaíba, no Rio Grande do Sul, mas mudou de rota influenciada por incentivos fiscais e por desacordo com o governo gaúcho.
As fábricas de Camaçari, responsável pelo Ka e EcoSport, e de Taubaté, na qual eram produzidos motores e transmissões, serão fechadas imediatamente. A produção será limitada a peças para estoques de pós-venda. No último trimestre de 2021, será a vez da despedida da planta da Troller, em Horizonte.
Dessa forma, serão encerradas as vendas do EcoSport, Ka e T4 tão logo cessem os estoques.
No Brasil, a marca manterá apenas o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, e o campo de provas e sua sede administrativa para a América do Sul, ambos em São Paulo.
Com a decisão, a Ford manterá a assistência ao Brasil, mas salienta que o país passará a ter modelos importados, principalmente das unidades de Argentina e Uruguai, além de outras regiões fora da América do Sul.
Em 2019, a Ford havia fechado a sua fábrica em São Bernardo do Campo (SP), dando por encerrada a produção de caminhões e dos carros Fiesta.
Para saber: em 2020, a Ford vendeu 119.454 veículos no Brasil, recuo de 39,2% em relação a 2019, apontam dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea),.
Curiosidade: há 102 anos, em 1919, a Ford foi a primeira montadora de automóveis a ser instalada no Brasil, engatando a marcha dos icônicos Modelos T em São Paulo.
Volkswagen anuncia Programa de Demissão Voluntária (PDV) na planta de Taubaté
A onda de incertezas que atinge o setor automotivo também é intensificada com a abertura pela Volkswagen, nesta segunda-feira (11), de um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para a fábrica de Taubaté (SP), com adesão até sexta-feira (15).
A medida integra um acordo aprovado pelos funcionários depois que a empresa anunciou que demitiria 35% da mão de obra no Brasil devido aos impactos da pandemia.
A unidade da Volkswagen em Taubaté emprega cerca de três mil trabalhadores.
Mercedes-Benz encerra produção de automóveis no Brasil
Outro anúncio também abalou o setor automotivo ainda em dezembro, quando a Mercedes-Benz comunicou o encerramento da produção de automóveis em sua fábrica de Iracemápolis (SP). Resultado da crise econômica enfrentada no Brasil por conta da pandemia, a fábrica era responsável pela produção do sedã Classe C e do SUV GLA. O volume produzido será deslocado para outras unidades da marca pelo mundo.
A decisão da Mercedes-Benz não impactará nas produções em São Bernardo do Campo (SP), com caminhões e chassis de ônibus, e Juiz de Fora (MG), com cabinas de caminhões.
GM enxuga produção
Em Gravataí, no Rio Grande do Sul, a escassez de peças obrigou a General Motors (GM) a reduzir a produção. Entre as medidas estão a suspensão de tempo de trabalho e a programação de duas semanas de férias coletivas para março. A falta de matéria-prima preocupa o setor e a indústria como um todo.
Banco do Brasil fechará 361 unidades no país
A segunda-feira (11) também pegou o setor financeiro de surpresa. O Banco do Brasil anunciou a decisão de fechar 361 unidades (incluindo 112 agências, sete escritórios e 242 postos de atendimento) no país, estimulada pela tendência de digitalização em serviços e concorrência acirrada.
A expectativa é de que 5 mil funcionários venham a aderir a dois programas de demissão voluntária.