Por Marcos Fernando Kirst
Muito se tem falado na imprensa internacional (inclusive aqui neste site) sobre os 50 anos do fim dos Beatles, ocorrido em 1970, mas menos se tem falado sobre os também 50 anos das estreias das carreiras solo dos quatro ex-integrantes da banda (John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison), que se deram ao longo daquele ano pontuado por quebra e revigoramento de sonhos. Dia desses abordamos, aqui, o florescer da carreira de Paul McCartney (As bodas de ouro do "McCartney" de McCartney), quando lançou seu álbum de estreia homônimo, em abril de 1970, dando o passo inicial para uma longeva carreira que se estende até os dias de hoje.
Portanto, ainda é tempo de também lançar um olhar sobre a(s) estreia(s) do baterista Ringo Starr na carreira solo, o que ele fez em dose dupla naquele ano, inclusive, se antecipando a tudo e a todos, lançando seu primeiríssimo álbum ainda antes de McCartney, antes do último disco dos Beatles (“Let It Be”) e antes mesmo do fim dos Beatles. Seu primeiro trabalho solo foi “Sentimental Journey”, em que ele conduz uma viagem sentimental por um repertório musical composto por canções antigas inglesas, das décadas de 1930 e 1940, que faziam a cabeça de seus pais e de suas tias.
Capa do LP de estreia, em 1970
O prédio em 2015, clicado pelo autor deste texto
São 12 faixas nas quais se sobressai o timbre grave de Ringo conduzindo bem as canções, todas elas instrumentadas pela George Martin Orchestra, organizada especialmente para este projeto pelo produtor musical dos Beatles, que arrebanhou os músicos e os levou ao estúdio. Nenhum dos outros três Beatles participou das gravações e o álbum foi lançado em 27 de março de 1970. A recepção de crítica e público foi (e segue sendo) pífia ao projeto, cujo maior mérito foi (e segue sendo) pontuar o início da carreira solo do baterista da maior banda de rock de todos os tempos (no entanto, cabe ressaltar que nunca ninguém lembrou de reportar a repercussão do álbum junto aos parentes de Ringo Starr).
Já “Beaucoups of Blues”, o segundo disco solo de Ringo, lançado no mesmo ano (em 25 de setembro de 1970), foi um projeto um pouco mais divertido. Conforme indica o título, trata-se de um novo passeio do músico, dessa vez pelas searas do country e do blues, gêneros que ele aprecia muito e que o motivou a elencar 12 músicas de artistas consagrados na época, para regravar com sua voz. Contou com uma pequena ajuda de um grupo de 18 músicos amigos para realizar o projeto que, confessou mais tarde, configurava um sonho pessoal (e não um sonho de suas tias, conforme o álbum anterior).
O LP que passeia pelo blues e country
A recepção, novamente, foi pífia, porém, um pouco mais condescendente em relação ao projeto anterior, afinal, agora, Ringo passeava pelo gênero que já o consagrara nos Beatles, quando cabia a ele vocalizar algumas das composições que podiam ser inseridas nessa categoria (country). Um exemplo é Don´t Pass Me By , inserida no “Álbum Branco”, de 1968, a primeira composição solo de Ringo (sem esquecer de suas performances country anteriores em Act Naturally e What Goes On).
Mas a consagração só viria mesmo em 1973, com o lançamento de seu terceiro álbum solo, providencialmente intitulado “Ringo”, dedicado ao que ele melhor sabia fazer: pop e rock and roll. Agora sim, em uma listagem de dez faixas, Ringo dizia a que vinha: divertir com música de boa qualidade, amparado por bons compositores e excelentes músicos. “Ringo”, de Ringo, entrou para a história também como tendo sido o único projeto em que todos os ex-membros dos Beatles estiveram envolvidos desde o fim da banda, em 1970, até o assassinato de John Lennon, em 1980.
O Lp que "reuniu" os Beatles em 1973
Claro que jamais houve um reencontro dos quatro ao mesmo tempo em estúdio, mas os nomes de todos eles estão lá, nos créditos, ora como compositores de canções generosamente doadas a Ringo, ora como músicos convidados a tocar em algumas faixas. O melhor que se conseguiu nesse sentido foi nas gravações da primeira faixa do álbum, I´m The Greatest , composta por John Lennon. George, John e Ringo estiveram reunidos em estúdio para gravá-la.
A fim de inserir Paul no projeto, Ringo voou a Londres e entrou com ele e com linda McCartney nos estúdios da EMI, na Abbey Road, para gravar Six O´Clock , composta por McCartney. O álbum traz ainda a excelente Photograph, criada em parceria entre George Harrison e Ringo, e também You And Me, Babe, uma inimaginável parceria na composição entre George Harrison e o eterno roadie e guarda-costas dos Beatles, Mal Evans.
Ringo oferece neste álbum sua primeira composição própria pós-Beatles, Step Lightly, e outras duas composições em parcerias: “Oh My My” e “Devil Woman”. As demais são de outros compositores. No total, Ringo lançou até hoje 20 álbuns de estúdio, o último deles, ano passado. Especialmente a partir do início dos anos 2000, Ringo vem empilhando uma série de álbuns de pop/rock primorosos: “Ringo Rama” (2003), “Choose Love” (2005), “Liverpool 8” (2008), “Why Not” (2010), “Ringo 2012” (2012), “Postcards from Paradise” (2015), “Give More Love” (2017) e “What´s My Name” (2019).