Sim, o mercado brasileiro de ônibus viu sua produção encolher 13,7% no primeiro trimestre sobre o mesmo período de 2019. Mas a caxiense Marcopolo, líder do setor na América Latina, vinha num ritmo acelerado e os números dos primeiros três meses de 2020 ainda não espelham todo o baque causado pela crise da Covid-19, iniciada com a parada das indústrias locais em 23 de março, com férias coletivas. Já na filial da China, os reflexos começaram bem antes.
No balanço divulgado nesta segunda-feira, a fabricante de carrocerias de ônibus informa números tímidos, mas alguns ainda azuis: no primeiro trimestre, a receita líquida consolidada alcançou R$ 919,4 milhões, incremento ínfimo de 2,3% em relação aos R$ 898,6 milhões do mesmo período de 2019. Ênfase aos negócios provenientes do mercado brasileiro, que avançaram 14,2%, com R$ 469,6 milhões, e representaram 51,1% do total.
A produção da fabricante foi de 3.441 unidades de janeiro a março, 2,7% menor do que as 3.535 carrocerias fabricadas no mesmo período do ano passado. E o lucro líquido atingiu R$ 10,7 milhões, 60,3% menor do que os R$ 27 milhões do primeiro trimestre de 2019.
Os resultados alcançados no trimestre ainda retratam um cenário de quase normalidade da demanda e do ritmo de crescimento da indústria brasileira de ônibus, que vinha em trajetória de elevação, avalia José Antonio Valiati, diretor financeiro e de Relações com Investidores da Marcopolo.
“No trimestre, os impactos provocados pela pandemia de Covid-19 se referem à interrupção das atividades na controlada Marcopolo China, que registrou retração de 82,2% na produção, e a variação cambial causada pela desvalorização de moedas locais em relação ao dólar. A queda de produção e entregas no Brasil aconteceu somente no final do mês de março, quando a empresa adotou as férias coletivas em todas as unidades no país”, explica.
Já para o segundo trimestre, a Marcopolo prevê um período de menor demanda, tanto dos clientes brasileiros quanto dos estrangeiros. Com base no ritmo atual de pedidos e de produção, e com a redução de custos, a partir de medidas como a diminuição das jornadas de trabalho dos funcionários, a empresa acredita atravessar esse momento de dificuldade global com segurança e consistência.
“Iniciamos a crise com uma boa carteira de pedidos e houve poucos cancelamentos. Desde o fim das férias coletivas, mantemos aproximadamente 50% da mão de obra em atividade nas unidades nacionais e, apesar de em volumes menores, continuamos recebendo novos pedidos diariamente, tanto para o mercado interno, como, em especial, para o mercado externo, compondo uma carteira que, mantido o ritmo atual de produção no Brasil, teremos estabilidade até o final de julho”, destaca Valiati.
Segmentos em destaque
No primeiro trimestre deste ano, os segmentos de melhor desempenho da Marcopolo foram os ônibus rodoviários e urbanos, esse último impulsionado pelo programa federal Caminho da Escola, que alcançaram avanço de mais de 50% em relação ao mesmo período de 2019, tanto em receita quanto em produção.
No filão de rodoviários, a alta é justificada pela baixa base de comparação no início de 2019, quando esse segmento foi afetado negativamente pela entrada em vigor de regra que obrigou a instalação de elevadores em todos os modelos comercializados no Brasil.
Exportações
As exportações registraram retração de 19,4% na receita líquida em relação ao primeiro trimestre de 2019, sinalizando dificuldades nos principais mercados da fabricante, com volumes menores sendo vendidos para Chile, Peru e Argentina. Com restrições de locomoção, relacionadas à prevenção à Covid-19, equivalentes ou mais severas do que as que vêm sendo aplicadas no Brasil, a empresa não prevê uma rápida recuperação de volumes nos mercados da América do Sul.
Entre as operações controladas e coligadas no exterior, houve queda de 11,5% nos volumes de produção, com 501 unidades fabricadas, contra 566 no mesmo período de 2019.