POR SILVANA TOAZZA E MARCOS FERNANDO KIRST
Adelino Colombo, que faleceu nesta sexta-feira (15 de outubro), aos 90 anos, era bem mais do que um empresário e fundador da maior rede de eletrodomésticos do Sul do país, com matriz em Farroupilha.
Adelino Colombo era a alma de uma grife de varejo. Da venda de televisores de porta em porta, há 61 anos, para a 10ª rede de varejo do Brasil, com 305 lojas e mais de 4 mil funcionários. Ele frutificou um império empresarial, a tal ponto de ter tido dificuldades com a sucessão e em abrir mão do comando operacional da Lojas Colombo. Centralizava porque tinha um tino único. Era certeiro. Previu o e-commerce muitos anos atrás, quando poucos ainda acreditavam na venda pela internet.
Como presidente do Conselho Administrativo da empresa, ainda possuía voz ativa nas decisões da companhia. Tinha uma visão arrojada de negócio que poucos conseguem alcançar. Enxergava longe. Antevia tendências e cenários. Desenhava projetos na mesma velocidade com que os punha em prática. Atravessou inúmeras crises, mas sempre viu nelas oportunidades. Quando questionado, dizia:
“Crise? Na Colombo, não temos crise. Temos soluções. Oportunidades”.
Sempre se viu trabalhando até o final da vida, que foi generosa e lhe conferiu longevidade. Nove décadas. Havia criado um conglomerado para a posteridade. Junto com os empresários da mesma geração, incluindo Raul Randon, Paulo Bellini e José Eugênio Farina, respectivamente, da Randon, Marcopolo e Todeschini, todos já falecidos, legou à Serra Gaúcha empresas que são marcas de projeção nacional e mundial. Legou progresso. Legou empregos. Legou um grupo que, assim como ele mesmo, representa superação, conquistas e destemor. Não por si, mas pela comunidade, para o próximo. Era generoso e habilidoso em conquistar amigos.
Como pescador, adorava uma boa história. Era tão simples quanto qualquer vizinho ou amigo. Sua única ostentação era cuidar com carinho e mão de ferro aquilo que criou com muito esforço. E mais, nunca deixar a empresa estacionar, sempre vê-la crescendo e expandindo. Acomodação, eis uma palavra que jamais se pode aplicar a Adelino Colombo. Seu nome fica impresso na galeria das grandes personalidades não só da Serra Gaúcha, mas do Estado e do país.
Em dezembro de 2020, Adelino Colombo esteve entre os homenageados do Reencontro da História, em alusão aos 55 anos da CDL Caxias do Sul, entidade da qual foi presidente. Recebeu do próprio neto, Eduardo Colombo – atual 1º vice-presidente da entidade – , o reconhecimento. (crédito da foto: Mirela Barbosa)
Pausa? Não
Seu Adelino, como era carinhosamente chamado, não se aposentou. Trabalhou até quase o final da vida, comparecendo a compromissos. Por conta da pandemia e da saúde mais frágil, em razão da idade, andava um pouco mais recluso nos últimos tempos.
No cargo de vice-presidente da rede está o seu neto, Eduardo Colombo, preparado pelo avô desde criança para liderar.
Hobbies
A Lojas Colombo funde-se com a biografia de Adelino Colombo, que, na vida privada, gostava de pescar, caçar, viajar e dos almoços de domingo, quando reunia a família. Participou ativamente de entidades empresariais e associativas e do Rotary Internacional.
Relacionamento próximo com funcionários
Adelino Colombo sempre atribuiu ao relacionamento próximo com colaboradores o principal marco de sua trajetória de sucesso e empreendedorismo. Quando questionado sobre seu legado, certa vez, declarou: "Cresceu na vida através do próprio esforço, cumpriu todos os seus compromissos e respeitou as pessoas".
Luto nas 305 lojas e centro administrativo
Na tarde desta sexta-feira, todas as 305 lojas nos três Estados do Sul e o centro administrativo, em Farroupilha, foram fechados em sinal de luto. No sábado, retomam as atividades.
Com persistência, Seu Adelino construiu o Grupo Colombo, composto pelas lojas de eletromóveis e pelas empresas Crediare; ColomboCred, especializada em empréstimos; Colombo Motors; Colombo Consórcios; Colombo Casa Pet; Feirão de Móveis; e a Colombo Tech, desenvolvedora de soluções de software para varejo em âmbito nacional.
Quatro filhos, 10 netos e dois bisnetos
Adelino Colombo faleceu às 11h40min desta sexta-feira (15). A causa da morte foi confirmada como falência múltipla de órgãos. Estava internado no Hospital São Francisco, no complexo da Santa Casa, em Porto Alegre.
Deixa a esposa, Ruth Colombo, quatro filhos, 10 netos e dois bisnetos. Nascido em Nova Milano, em 1930, guiado pela intuição e pelo talento para os negócios, fundou a Lojas Colombo.
Despedida
O corpo do empresário será velado na Capela A do Memorial São José de Farroupilha, com previsão de início para as 21h, e o sepultamento está marcado para as 11h deste sábado (16) no Cemitério Público Municipal da cidade, que decretou luto oficial. As encomendas de flores não param de chegar de várias partes do país e lideranças lamentam a perda deste ícone empresarial. Em respeito às medidas de proteção contra a Covid-19, o velório será restrito a familiares e pessoas mais próximas.
FRASES DE SEU ADELINO COLOMBO
“Ao inaugurar uma nova loja, além do orgulho, sinto prazer em saber que dou emprego a mais tantas pessoas. Esta é a minha satisfação. O mais importante não é o dinheiro, mas, sim, nascer neste mundo e fazer alguma coisa em benefício de seus semelhantes”.
“Não tenho dúvidas de que o nosso maior acerto foi ter sempre a preocupação de fortalecer a empresa. Ainda hoje, se for ver minha ficha cadastral, você verá que eu não tenho nada em termos de patrimônio. Continuo deixando tudo na empresa. Tanto meu lucro quanto parte do pro-labore e dos aluguéis a que tenho direito, deixo tudo para reinvestir na empresa. Não vejo demérito em dizer que só fui morar em um apartamento próprio depois que completei bodas de prata, para não tirar dinheiro da empresa”.
“Um homem nunca deve se dar por realizado. Isso porque acho que sempre é preciso encontrar alguma coisa para fazer. Minha satisfação é a de criar empregos, criar novas frentes de trabalho, gerar riquezas, gerar tributos. Acho que se você se sentir realizado, você perde a ambição. A minha é a de ampliar o número de lojas da rede, mas não é porque isto vai me dar mais dinheiro no final do ano, não é este o principal objetivo. A meta é continuar contribuindo para o crescimento da rede e da economia do país."
“Eu sempre digo que tenho muitas razões para agradecer a Deus. Uma delas é de que Deus me colocou em uma atividade que eu gosto muito. Quando você gosta muito do que faz, você se dedica cada vez mais. Meu maior problema seria se um dia eu não pudesse trabalhar mais. Eu trabalho com muito prazer, com alegria. Sou uma pessoa que procura manter a calma, procuro não me estressar. Quando descobri que eu era hipertenso, meu médico disse que eu não poderia me incomodar e, então, criei métodos próprios para aliviar o meu próprio estresse. Para que se incomodar um final de semana inteiro com um problema que e só poderei resolver na segunda-feira? Além disso, é muito importante você ter na vida um princípio otimista, pois isso lhe fará conseguir resolver os problemas com calma. Do contrário, se você for pessimista, você parte do princípio de que não vai conseguir resolver, e acabará não conseguindo mesmo”.
“Os jornalistas sempre me perguntam o que eu gostaria de ser, se não tivesse sido empresário. E eu sempre respondo: empresário”.
DEPOIMENTOS SOBRE ADELINO COLOMBO
“Ele sempre foi um irmão muito esperto. Era diferente de nós, não queria ficar na colônia. Saiu de casa aos 14 anos de idade. Desde pequeno, já queria ser comerciante” (irmã Angelina).
“Eu costumava ir aos bailes e, certo dia, chegou um grupo de rapazes diferentes, que não eram dali. Não demorou para um deles me tirar para dançar, mas um amigo dele, que ficou parado num canto do salão, ficava fazendo gestos e sinais para ele. Era o Adelino, que queria dançar comigo. Mal o amigo dele me largou, o Adelino veio correndo ao meu encontro e dançamos a noite inteira”. A esposa, Ruth, ao revelar como ela e Adelino se conheceram, em um baile em São Sebastião do Caí, cidade em que ela morava.
* Frases garimpadas de entrevista e reportagem assinada pelo jornalista Marcos Fernando Kirst