POR MARCOS FERNANDO KIRST
Local: Posadas, a simpática e acolhedora capital da província de Misiones, no norte da Argentina.
Data: primeiros dias de julho de 2016.
Expedicionários: eu, minha esposa, minha mãe e minha tia.
Motivo da expedição: férias, passeio cultural e celebração de meu 50º aniversário (em 8 de julho), coincidindo com o aniversário do bicentenário da Declaração de Independência da Argentina (em 9 de julho).
Relato: Chegamos à capital de Misiones no início da tarde, após passearmos, nas vésperas, pela cidade fronteiriça gaúcha de São Borja, visitando os museus que resgatam as memórias dos ex-presidentes da República João Goulart (o Jango) e Getúlio Vargas (sem deixar de bater ponto em um dos modestos e saborosos restaurantes que servem peixes frescos à beira do rio Uruguai, no paço); e pela pequena cidade argentina também fronteiriça de Santo Tomé, já nossa conhecida, entrando no clima local atrás de confiterias, refrigerantes de pomelo, jogo nas maquininhas do cassino chique do hotel, jantar à base de “asado de tira” seguido de postre com dulce de leche, cerveza Quilmes e por aí.
Amanhecemos no hotel em Posadas no dia 8, meu aniversário, e a cidade já estava toda engalanada para as celebrações do bicentenário, com bandas marchando pelas calles, aviões cruzando os céus, avenidas enfeitadas para os desfiles, veteranos da Guerra das Malvinas se reencontrando nas esquinas... Nenhum nativo ali sabia, mas EU também estava em festa, afinal, celebrava naquela ocasião o atingir da meta de um quarto da idade do país, e eu achava que merecia me dar um presente.
Expedicionário encontra veteranos da Guerra das Malvinas
E eu sabia o que queria.
Meu radar treinado a captar vibrações emanadas por boas livrarias estava ligado e calibrado e não demorou a me conduzir direto até uma das melhores da cidade, bem no centro, pertinho do hotel. Não demorou muito para meu olhar perscrutador de prateleiras deparar com meu objeto do desejo: um volume da Ediciones de La Flor (tradicional editora de Buenos Aires) contendo “Toda Mafalda”, a reunião em um só volume de todas as tiras da personagem elaboradas e publicadas por seu criador, Quino!
"Toda Mafalda", enfim, na estante
“Tá aqui meu presente”, eu disse para a esposa. Saquei o cartão de crédito e paguei o que tinha de pagar em pesos, reais ou dólar, não sei, não lembro, não interessa e não interessava. Interessava sim era ter, enfim, toda a genial obra em quadrinhos dos geniais personagens criados pelo genial autor argentino, meta que há décadas eu acalentava desde que descobri o personagem por herança de interesse oriunda de meus tios maternos e meus pais, apreciadores do humor refinado, inteligente e contestador de Joaquín Salvador Lavado, o Quino, que hoje (30 de setembro de 2020) nos deixa, aos 88 anos de idade.
Quino publicou um total de 1928 tiras da turma de Mafalda (Manolito, Susanita, Felipe, Guille, Liberdade, Miguelito) entre os anos de 1964 e 1973, até aposentar os personagens. Cartunista de mão cheia, no entanto, seguiu desenhando seus cartuns repletos de fina ironia, humor sutil e visão acurada dos meandros da vida em sociedade, reunidos amiúde em publicações temáticas.
Fica sua obra, a voz forte das personalidades de suas criações imorredouras e a gratidão por nos ter generosamente legado tanta arte com seu talento.
Mafalda e seus amigos