Caxias do Sul 24/11/2024

MAESA: "Um ponto de atração de turistas e um rico centro de convivência para os caxienses"

Última reportagem da série de depoimentos sobre o futuro do complexo arquitetônico traz elementos de inspiração no centro histórico de Florença (Itália) e no Distrito da Arte, em Pequim (China)
Produzido por Silvana Toazza e Marcos Fernando Kirst, 12/08/2022 às 09:51:30
MAESA:
19 pavilhões em 53 mil metros quadrados começaram a ser edificados em 1945
Foto: João Henrique Ramos

POR SILVANA TOAZZA E MARCOS FERNANDO KIRST

O portal de notícias chega à última reportagem da série de quatro matérias com depoimentos de lideranças empresariais, sociais, políticas e culturais sobre a importância da revitalização da Metalúrgica Abramo Eberle SA (MAESA) para conectar a Caxias do Sul da Revolução Industrial com a Caxias do Sul do futuro.

No total, foram 18 personalidades ouvidas, numa voz uníssona de que a restauração desse patrimônio histórico tombado tem o potencial de mudar a face e a história da cidade, integrando mais nuances de cultura, turismo, inovação, empreendedorismo, arte e vida social.

Estrutura remonta à produção fabril da Metalúrgica Abramo Eberle SA (foto: João Henrique Ramos)

As pontes que levam o momento atual para o momento futuro, trazendo para o centro de Caxias do Sul um conceito de "cidadela" (cidade dentro da cidade), passam por muitos caminhos, leis, estudos minuciosos de viabilidade financeira, investimentos, com vistas a um projeto de Parceria Público-Privada (PPP). Mas um ponto torna-se crucial: o engajamento da comunidade, empresários, atores culturais, alas sociais, entidades, poder público, para que esse sonho saía hoje da esfera de um conjunto arquitetônico abandonado para um megaprojeto arrojado de 1º mundo, que coloca Caxias do Sul em outro patamar, na rota do turismo, com novo impulso ao desenvolvimento. Entenda melhor AQUI

DEPOIMENTOS

Qual a relevância da restauração da MAESA para a comunidade de Caxias do Sul?

José Clemente Pozenato, professor e escritor

"Caxias do Sul podia ter também essa riqueza" (foto: Marcos Fernando Kirst)

“Conheci o Mercado Central de Florença em 2015, quando já estava decidido que A MAESA é Nossa. E circulando por ele, um verdadeiro centro de convivência, senti que Caxias do Sul podia ter também essa riqueza no prédio da MAESA. No Mercado Central de Florença há lugares para ficar sentado, há lojas, restaurantes, pizzaria, cafeterias, cave de vinhos, livraria, museu de peças antigas, uma escola para ensinar gastronomia local e um espaço para degustação de vinhos da Toscana. No centro de tudo, um conjunto de tendas para a venda de produtos agrícolas, no estilo dos mercados antigos. Ali, ‘revitalizando o centro histórico de Florença, autenticidade e tradição se conjugam, num ambiente de todo favorável para sentar e degustar’, como descreve o folheto de divulgação do Mercado. Tudo isso ‘resultado da fusão de duas identidades, a tradicional e a atual’. Numa das botteghe, pedi um cálice de Chianti Clássico branco e perguntei desde quando funcionava o Mercado Central e quem eram os frequentadores. O atendente respondeu que a inauguração foi a 23 de abril de 2014; que nos sábados e domingos fica cheio de florentinos; e que nos outros dias a frequência maior é de turistas. É isso que imagino para a MAESA: um ponto de atração de turistas e um rico centro de convivência para os caxienses”. (José Clemente Pozenato)

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Rossano Fernando Boff, presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas Caxias):

"Novo fôlego para o desenvolvimento da nossa cidade" (foto: Julio Soares)

"A revitalização do prédio da antiga Metalúrgica Abramo Eberle, a MAESA, já declarada como patrimônio histórico municipal, é primordial para o fomento da cultura e do turismo de Caxias do Sul e traz novo fôlego para o desenvolvimento da nossa cidade. O complexo de mais de 53 mil m² deve ter preservadas as características arquitetônicas por ser um ícone do trabalho dos caxienses. Para o comércio, a valorização da nossa história possibilita uma motivação para acreditar em novas ideias e na expansão dos negócios. Afinal, a movimentação desta iniciativa vai contribuir para gerar mais oportunidades para a sociedade atual e para as futuras gerações". (Rossano Fernando Boff)

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Ézio José Ribeiro de Salles, Diretor Jurídico da Móveis Florense, de Flores da Cunha:

"Representa o espírito empreendedor de toda uma região" (foto: Arquivo Pessoal)

"Trago alguns apontamentos do livro “MAESA - Poema Arquitetônico”, de Rubia Ana Mossi Frizzo, que, sem eles, não seria possível sintetizar a importância da MAESA. A Metalúrgica Abramo Eberle S/A representa o espírito empreendedor de toda uma região, pois, recém aqui chegados, alguns imigrantes acreditaram no potencial desta terra para dar início aos seus negócios. Quando Giuseppe, o pai de Abramo Eberle, comprou uma funilaria, a pequena casa de madeira localizada na quadra ao lado da Praça Central de Caxias, cuja réplica encontra-se no topo do prédio, provavelmente não imaginava a importância que essa empresa teria nos anos seguintes. No início, foi a mãe de Abramo, Luigia Eberle, mais conhecida como Giggia Bandera, quem dedicou-se à funilaria e ensinou o filho Abramo, ainda menino, a trabalhar as folhas de flandres para a confecção de lamparinas e a realizar outros trabalhos em cobre como peças para alambiques e máquinas de sulfatar, para atender aos agricultores da região. Com 16 anos, sabendo que seus pais pretendiam vender o negócio, Abramo adquire a funilaria pelo mesmo preço que seus pais haviam comprado. Dedica-se ao trabalho de corpo e a empresa cresce na onda da industrialização da região, tanto que, em poucos anos, foi adquirindo os prédios vizinhos e passa a ocupar praticamente toda aquela quadra. Ele começou a atender os mercados do centro do país, inicialmente com produtos agrícolas produzidos pelos agricultores da região e, posteriormente, com produtos fabricados pela Eberle. Com aguçada visão de futuro, assim como o fizeram alguns dos empreendedores reconhecidos da região, como Francisco Stédile, Paulo Bellini, Raul Randon, Adelino Colombo, Guido D´Arrigo e Lourenço Darcy Castellan, só para citar alguns, acabou determinando o DNA de toda uma região. Foi quando a Eberle da área central (fábrica 1) já não dava mais conta de atender às demandas, começa em 1945 a construção do prédio da fundição (fábrica 2), em uma área fora dos limites urbanos, hoje o bairro Exposição. Começa pelo prédio da fundição, que fica pronto em 1948. A partir daí, mais outros 18 prédios são construídos no espaço de 53 mil metros quadrados. Em 2010, depois de sucessivas crises, o complexo é entregue ao governo do Estado do RS em pagamento de dívidas de impostos. Mas, felizmente, a área e os prédios retornam para Caxias, por meio de uma lei de doação de 2014. Atualmente, existem estudos para aquele complexo de prédios tornar-se um espaço de referência em lazer, turismo, cultura e negócios para toda a Serra Gaúcha. Respeitando o tombamento existente para o local, o espaço pode e deve ser ressignificado e devolvido ao uso da comunidade. Caxias do Sul e região têm tudo para exteriorizar o protagonismo nas áreas de cultura e turismo, valorizando a história e honrando a memória não somente desses empreendedores, mas também de tantos quantos ali trabalharam, buscaram o sustento e formação de suas famílias. (Ézio José Ribeiro de Salles)

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Jonas Piccoli, ator, dramaturgo e escritor

"Fomenta a autoestima da cidade" (foto: Arquivo Pessoal)

“A ativação da MAESA ao público é por demais importante. Acaba sendo, além de um centro cultural, um centro turístico, de convivência e de agregação de pessoas. É um local de fácil acesso, não só para quem mora no centro, mas de fácil acessibilidade para quem reside nos bairros e precisa de transporte coletivo urbano. Vejo a MAESA como uma grande proposta cultural e também criativa no centro de Caxias do Sul. É uma hipervalorização da cidade. No futuro, vai se falar da MAESA ativada assim como hoje se fala do Mercado Público de Porto Alegre. A MAESA, além do viés artístico, cultural e gastronômico, fomenta a economia, a cultura, a criatividade e, acima de tudo, fomenta a autoestima da cidade, o que é o mais importante de tudo”. (Jonas Piccoli)

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Antonio Giacomin, artista plástico, aquarelista

"Uma tendência mundial, o sonho de qualquer artista" (foto: Fran Corrales)

“Esse espaço é um sonho de qualquer artista: ter um centro de cultura, ou um centro onde se possa convergir e deparar com uma série de artistas e talentos, em que cada um, dentro de sua prática na cultura, possa mostrar ao público e à sociedade o quão valiosos são os atos de criar e de pensar e ali colocar suas produções e seus talentos. Toda a cidade e a região se sentiriam muito mais valorizadas em ver sua prata da casa mostrando ao mundo os talentos que aqui temos e que muitas vezes não aparecem em função de falta de oportunidades, de espaços, de uma cadeia que possa mostrar os produtos e serviços que uma sociedade possui. Essa é uma tendência mundial. Recentemente, pouco antes da pandemia da Covid-19, viajei à China e, em Pequim, tive a oportunidade de visitar e conhecer um local próximo ao centro, chamado Distrito da Arte, que, na verdade, trata-se de uma antiga siderúrgica transformada em um enorme centro de cultura, com inúmeras galerias, auditórios, lojas de artesanato, galerias com exposições de artistas locais e internacionais. A MAESA pode se transformar em algo parecido, que dê muito orgulho a todos os cidadãos caxienses, criando um espaço em que se possa concentrar a produção local e criar autoestima nos artistas regionais. A partir disso, Caxias lançaria um novo olhar sobre a importância da cultura”. (Antonio Giacomin)

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Leia também

A hora e a vez dos “Eberles” do século XXI

Mercado público e museu; trabalho e cultura; a cidade e as serras

Reportagens anteriores da série:

Qual a relevância da restauração da MAESA para a comunidade de Caxias do Sul?

MAESA: "Os caxienses e seus visitantes querem um espaço inovador"

MAESA: "Memória viva e pura, capaz de tornar-se pulsante e sedutora”