Uma polêmica ronda o mercado nacional de ônibus elétricos. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou na manhã de terça-feira (11/02) que "não tem como garantir" que 50% (metade) da frota de ônibus na capital seja elétrica até 2028, conforme prevê lei municipal de 2018 (16.802/2018), que encontra-se sob litígio judicial.
O motivo, na sua visão: a indústria brasileira não conseguiria produzir a quantidade necessária de veículos elétricos, modelos que representam ganhos em sustentabilidade pela baixa ou zero emissão de poluentes e estão na pauta do mundo. Outra razão, segundo o prefeito, é que a Enel, concessionária de energia, não teria condições de garantir o abastecimento a todo o contingente de carros eletrificados. A estimativa é que circulem hoje pela capital paulista 428 ônibus elétricos, integrantes da frota de 12 mil coletivos.
O assunto trouxe ao tabuleiro de debates um novo ingrediente, representando a voz das fabricantes brasileiras de ônibus elétrico e sua cadeia produtiva, incluindo a caxiense Marcopolo, maior indústria de carrocerias do setor na América Latina.
"Total condição tecnológica e operacional", diz a ABVE
Diante das declarações do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) apresenta pontos de esclarecimentos, em nota enviada à imprensa:
1) A indústria brasileira de ônibus elétricos e componentes tem hoje total condição tecnológica e operacional de produzir os ônibus elétricos requeridos pelas metas anuais de descarbonização da frota da cidade de São Paulo previstas na Lei 16.802/2018 e na licitação pública que a ela se seguiu.
2) Em dezembro de 2023, em resposta a um questionário solicitado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), as empresas associadas à ABVE que produzem e comercializam ônibus elétricos já tinham informado o governo federal de que, com a capacidade produtiva já instalada, têm condição de produzir atualmente até 9.920 ônibus elétricos/ano, podendo chegar a 25 mil ônibus elétricos/ano com os investimentos previstos por essas empresas até 2028. Cinco companhias associadas à ABVE responderam ao questionário do MDIC sobre o tema. São elas: BYD, Eletra, Giaffone, Higer e Marcopolo.
3) Cabe destacar que a cadeia produtiva brasileira de ônibus elétricos é formada por empresas nacionais e multinacionais instaladas há muitas décadas no país, algumas delas no Estado de São Paulo, aptas a fornecer produtos de alta qualidade tecnológica, excelente desempenho operacional, assistência técnica e ampla rede de reposição.
4) Essas empresas se prepararam durante anos para atender aos volumes necessários ao programa de descarbonização de frotas de ônibus da cidade de São Paulo e de outras cidades do Brasil. Elas têm ciência de que os gargalos na implementação do cronograma de transição de frota paulistana não se encontram na capacidade produtiva da indústria, e sim nas deficiências de planejamento da infraestrutura de recarga elétrica e em eventuais desajustes nos modelos de financiamento das operadoras de transporte – problemas alheios às empresas de ônibus elétricos.
5) A ABVE, por fim, reitera sua disposição de dialogar e colaborar com as autoridades municipais de São Paulo e com outras autoridades e empresas de energia e infraestrutura envolvidas com o tema, na busca de uma solução rápida e eficaz que assegure o pleno cumprimento das importantes metas de descarbonização do transporte público na maior cidade do país.