POR MARCOS FERNANDO KIRST
A Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) é composta por uma sucessão de episódios superlativos que marcam a História da humanidade e competem entre si com sua carga de assombro. Um dos mais significativos entre eles completa 75 anos neste dia 6 de agosto, evocando a primeira vez que o mundo viu, atônito, o estrago causado pelo uso bélico de uma arma nuclear: a destruição da cidade japonesa de Hiroshima com o lançamento de apenas um artefato. Nagasaki viria na sequência, três dias depois, forçando a capitulação do Japão frente aos Estados Unidos e encerrando a guerra.
Hiroshima, após o ataque atômico
A bomba foi lançada sobre a cidade japonesa às 8h15 daquele ensolarado dia 6 de agosto de 1945 pelo bombardeiro norte-americano B-29 batizado de “Enola Gay”, em homenagem ao nome da mãe do piloto, Paul Tibbets (Enola Gay Tibbets era o nome da senhora). O artefato, com uma carga nuclear de urânio, também ganhara nome: “Little Boy”, ou “rapazinho”. O estrago que o dito “rapazinho” causou até hoje é indefinido, mas calcula-se que tenha vitimado cerca de 150 mil pessoas, todas civis (mulheres, crianças e velhos entre a maioria da conta).
O AZAR DE NAGASAKI
Os comandantes japoneses da guerra, em Tóquio, só tiveram ciência do fato juntamente com a população norte-americana e o restante do mundo, 16 horas após o ataque, a partir do anúncio oficial proclamado pela Casa Branca, em Washington. As comunicações na época, ainda mais em um país já arrasado pelos sucessivos ataques aéreos, como o Japão, eram precárias e impediram uma tomada de decisão mais efetiva. Frente ao “silêncio” japonês, que se seguiu à repetição norte-americana da exigência de uma rendição incondicional, a segunda bomba atômica foi jogada, dia 9 de agosto, sobre a cidade de Nagasaki.
Nagasaki arrasada, no segundo ataque nuclear da História
Desta vez, o B-29 chamava-se Bockscar, e a bomba, agora de plutônio, fora apelidada de “Fat Man” (algo como “gorducho”). Foi lançada às 11h01 do dia 9 de agosto de 1945, causando a morte estimada de 80 mil japoneses, novamente, todos civis.
Nagasaki, na verdade, era o alvo secundário da segunda missão atômica norte-americana. O objetivo principal era jogar a bomba sobre a cidade de Kakura, porém, a visibilidade na região fora prejudicada por nuvens de fumaça oriundas de bombardeios efetuados na área no dia anterior, e os aviões da esquadra rumaram então para Nagasaki, que teve o azar de entrar desta forma para a História.
A RENDIÇÃO JAPONESA
No dia 15 de agosto, o imperador Hiroito irradia para toda a nação japonesa seu discurso oficial de rendição do Japão. Seria a primeira vez que a quase totalidade dos japoneses escutariam a voz de seu endeusado imperador.
A assinatura oficial da rendição japonesa aos norte-americanos ocorreria no dia 2 de setembro de 1945, um domingo, a bordo do couraçado norte-americano USS Missouri, ancorado na Baía de Tóquio. O documento que colocava um ponto final à Segunda Guerra Mundial foi assinado pelo ministro das Relações Exteriores japonês, Mamoru Shigemitsu, e recebido por representantes militares das forças aliadas.
Japoneses assinam a capitulação, em 2 de setembro de 1945
A conveniência ou não do uso das duas bombas atômicas contra o Japão segue sendo motivo de debate entre os historiadores desde 1945 até os dias de hoje. Uma ala defende que a ação foi necessária para abreviar a rendição do Japão e impedir a sequência da guerra por muitos meses, causando centenas de milhares de vítimas.
A outra ala sustenta que o Japão já estava derrotado e sua capitulação se daria em questão de poucas semanas, tendo as bombas atômicas sido um exagero monstruoso, motivado pela vontade dos Estados Unidos de demonstrar ao mundo sua superioridade bélica, enviando um claro recado especialmente à ainda aliada União Soviética, preparando o cenário para as décadas de Guerra Fria que estavam por vir.
As silenciosas vozes das cerca de 250 mil vítimas diretas dos dois ataques (sem contar as inumeráveis vítimas posteriores, em consequência da radiação), porém, não podem ser ouvidas nesse interminável debate, e é em respeito a cada uma delas que as tristes datas são lembradas.
O poeta brasileiro Vinícius de Moraes escreveu uma ode poética às vítimas da bomba atômica, “Rosa de Hiroshima”, belamente musicada pelo conjunto Secos & Molhados em seu álbum de estreia, em 1973. Sinta o som AQUI