Percorrer as etapas de uma recuperação judicial não é tarefa simples, tampouco óbvia. Contudo, o sucesso pode ser colhido pelas empresas que se estruturam e levam a sério cada fase imposta pela lei. No final, manter o negócio, garantir a perenidade da marca e assegurar empregos são a grande recompensa. São motivos de ouro para a Keko Acessórios buzinar alto no mercado.
Após seis anos, a companhia de Flores da Cunha, líder brasileira em personalização automotiva, deu "tchau" ao processo de recuperação judicial. Comemora a grande SUPERAÇÃO, após dificuldades financeiras. Neste período, cresceu 170%, passando de um faturamento de R$ 130 milhões em 2018 para R$ 360 milhões projetados para 2025. Com isso, no novo momento, a empresa está investindo R$ 30 milhões em tecnologias e expansão da fábrica.
A Keko tem 38 anos de mercado, é fornecedora de 12 grandes montadoras de veículos e exporta para 45 países nos cinco continentes. Entre as estratégias adotadas na recuperação estão horizontalização da gestão, enxugamento de projetos, reorganização mercadológica, planejamento financeiro e tributário e investimentos em inovação e em produtos com alto valor agregado para picapes.
Ou seja, se 2018 ficou marcado como o ano da maior e mais desafiadora crise já enfrentada pela Keko Acessórios, 2025 entra para a história da companhia como o ano de celebrar um dos seus maiores feitos: a saída do processo de Recuperação Judicial (RJ) deflagrado em setembro de 2018, quando precisou recorrer à medida para renegociar dívidas que alcançavam R$ 75,5 milhões.
Trata-se de uma empresa familiar que nasceu em 1986, fruto do espírito visionário do empreendedor Leandro Scheer Mantovani e seu pai Henri Mantovani, que enxergaram potencial para o mercado de personalização de picapes e veículos leves no Brasil. Nessas décadas, a companhia se consolidou na liderança do segmento no Brasil e América Latina, fabricando peças e acessórios para atender as grandes montadoras mundiais de veículos, o varejo e as exportações.
Leandro Scheer Mantovani, presidente executivo, e Lucas Bertuol, gerente administrativo-financeiro, conduziram o processo de recuperação da Keko Acessórios junto com a uma equipe que hoje soma quase 500 funcionários (foto: Luís Henrique Bisol Ramon, Divulgação)
A empresa sempre foi operacionalmente saudável e vinha em um ritmo de crescimento médio de 20% ao ano. Em 2009, iniciou o projeto de um grande investimento em uma planta fabril modelo na cidade de Flores da Cunha/RS. Somado a novas tecnologias e inovação em produtos, o investimento chegou a R$ 100 milhões ao longo dos seis anos seguintes – a maior parte financiado. Esse aporte de recursos estava planejado para acompanhar o modelo de crescimento do negócio. No entanto, o custo do endividamento sofreu um salto com o avanço da taxa Selic de 7,5% para 14,5% ao ano no período. De 2015 a 2018, a Keko fez diversas tentativas de negociações coletivas com os bancos tendo o auxílio de consultorias. Sem êxito.
Com isso, a indústria foi ficando bastante pressionada. A greve dos caminhoneiros, em 2018, agravou ainda mais os problemas. A gota d´água foi o cancelamento de um projeto com uma montadora, que resultou em uma redução de receita de R$ 20 milhões.
“Nossa preocupação foi conversar primeiro com todos os 420 funcionários que estavam conosco na época, para reforçar nosso compromisso com o cumprimento das obrigações, o pagamento de salários e a preservação dos empregos. Também visitamos e conversamos pessoalmente com clientes e fornecedores estratégicos. Isso foi primordial para restabelecer os acordos e não perdemos a credibilidade e a confiança do mercado”, recorda o presidente executivo Leandro Scheer Mantovani.
Ao longo da recuperação, o número de funcionários também aumentou, chegando hoje próximo a 500 empregos diretos. Estratégias a serem aplaudidas na “sala de crise”, criada para implementar uma gestão mais horizontalizada e buscar soluções para os problemas críticos e superar os desafios, inclusive em períodos conturbados como a pandemia da Covid-19 e as enchentes.
Agilidade nas decisões, enxugamento dos processos internos, planejamento financeiro, inovação e qualificação do mix de produtos para picapes garantiram velocidade à produção e a todo o negócio. Assim a casa foi arrumada. E aquilo que poderia ser um ponto final da história, tornou-se um novo e pródigo capítulo empresarial.