Por Marcos Fernando Kirst
Pois é, os Beatles terminaram oficialmente em 10 de abril de 1970, meio século atrás, e nunca mais voltaram a tocar juntos ou a se reunir oficialmente para fazer música. Ao longo de toda a década de 1970, os quatro ex-integrantes da banda se revezaram nas respostas aos insistentes apelos da mídia, sobre uma possível reunião do quarteto, intercalando “jamais”, “talvez”, “quem sabe”, “não sei”, “acho difícil”, “temos conversado sobre isso”, “por mim, tudo bem, depende dos outros três”, e foram levando.
Levaram assim até 8 de dezembro de 1980, quando John Lennon foi assassinado a tiros defronte ao prédio em que morava, o Edifício Dakota, em Nova Iorque, ao voltar dos estúdios onde gravava seu novo disco, após um jejum de cinco anos sem lançar material novo. A partir de então, foi George Harrison quem definiu o mantra que selaria para sempre qualquer nova insinuação de reunião da banda: “Não há a menor possibilidade de os Beatles voltarem a se reunir enquanto John Lennon permanecer morto”.
E de fato foi assim até o ano de 1994, quando os três membros remanescentes voltaram a se encontrar oficialmente em nome da banda para produzir o Projeto Anthology, que consistiu no resgate da história dos Beatles contada pelos próprios integrantes em entrevistas exclusivas (de Paul, George e Ringo) e entrevistas antigas de John. O resultado foi um livro de luxo, um documentário de cerca de 16 horas de duração e três caixas de CDs duplos com sobras de estúdio, versões alternativas de músicas consagradas da banda, ensaios, raridades e pérolas. Entre essas pérolas... duas músicas NOVAS dos Beatles! Como? Siga as próximas linhas...
A fim de oferecer um mimo imensamente esperado pelos fãs, o projeto ofereceu como chamariz duas músicas não só inéditas dos Beatles nas caixas de CDs, como produzidas naquele período mesmo, depois do fim do grupo. Yoko Ono, a viúva de Lennon, entregou aos outros Beatles uma fita contendo algumas músicas de John, gravadas em casa, ao piano, compostas por ele e nunca lançadas em sua discografia solo. Tendo já a base melódica em mãos, bem como os vocais de John e suas linhas ao piano, restou aos outros três organizarem os arranjos para seus instrumentos (Paul no baixo e vocais; George na guitarra e vocais e Ringo na bateria) e suas linhas vocais (coros e inserções de estrofes, quando fosse o caso), produzindo, assim, novas canções, com o frescor típico dos Beatles.
Dessa maneira, a primeira caixa de Cds, lançada em 1995, trouxe como carro-chefe a inédita e novíssima música Beatle “Free as a Bird”, a partir da fita demo de John, gravada em 1977. Produzidos pelo talento de Jeff Lynne (da Eletric Light Orchestra – ELO), os três amigos entraram em estúdio para trabalhar como Beatles novamente, completando uma música inacabada de John Lennon. “Imaginamos que John tivesse saído em férias e deixado ainda apenas aquela canção para finalizarmos em estúdio e, a partir desse pensamento, foi mais fácil trabalharmos com o constante peso de sua ausência”, explicou Paul McCartney, posteriormente.
No ano seguinte, 1996, a tão esperada segunda caixa de CDs abriu com a segunda nova canção Beatle, intitulada “Real Love”. O esquema foi exatamente o mesmo da anterior: uma fita demo de John Lennon, com uma canção não finalizada gravada em seu apartamento nova-iorquino em 1979, contendo a voz de John ao piano. De volta ao estúdio, Paul, Ringo e George fizeram a mágica de surgir nova canção Beatle.
Alguns meses depois, chegou ao mercado a terceira e última caixa dupla de Cds, porém, desta vez, sem a tão esperada nova música a partir de uma demo deixada por John Lennon. Soube-se, anos depois, que eles trabalharam em cima da música “Now and Then”, também de Lennon, porém, não ficaram satisfeitos com o resultado. Consta também que teriam tentado compor uma nova canção, intitulada “All for Love”, mas que acabou vetada por George, que não aprovou o resultado final. Nos Beatles, sempre imperou o poder de veto de qualquer um dos membros da banda para cancelar qualquer ideia que fosse. Além disso, sempre primaram pela qualidade extrema em tudo o que faziam, o que explica o veto a lançar qualquer coisa que não lhes parecesse á altura da qualidade Beatle.
Mas as duas faixas entregues junto ao Anthology saciaram a vontade do mundo por um pouquinho mais de Beatles.
Ouça aqui “Free as a Bird” e “Real Love”, nas versões do Anthology.
E aqui as duas canções em versões demo alternativas, de John Lennon, que Yoko não entregou ao projeto Anthology.
Aqui está “Now and Then”, que deveria ter entrado no CD Anthology 3, mas foi vetada.