POR MARCOS FERNANDO KIRST
Agatha Mary Clarissa Miller, nascida na cidade de Torquay, sul da Inglaterra, em 15 de setembro de 1890, consagrou-se como uma das maiores assassinas da história, cabendo em sua conta as mortes violentas de pelo menos 300 pessoas. Currículo suficiente para garantir a pena de morte em países de primeiro mundo, caso sua performance macabra não tivesse se limitado às páginas da literatura, assinadas sob seu nome artístico mundialmente famoso: Agatha Christie (o sobrenome ela obteve do casamento com seu primeiro marido e o transformou em marca).
Neste mês de outubro de 2020, seus fãs espalhados pelos quatro continentes celebram os 100 anos de lançamento de seu romance policial de estreia, “O Misterioso Caso de Styles”, levado a público em outubro de 1920 após ter sido recusado previamente por seis editoras incapazes de vislumbrarem o retumbante sucesso que lhes escapulia das mãos. Desde aquele primeiro mistério, a “Dama do Crime”, como a escritora viria a ficar conhecida, já brindava o público com sua criação máxima, o cerebral e empolado detetive Hercule Poirot, que seria o protagonista da maioria dos demais 65 livros que produziria em sua prolifica carreira, encerrada com sua morte (de causas naturais, ressalte-se), aos 85 anos, em 12 de janeiro de 1976.
Agatha Christie, a "Dama do Crime", assassinou 300 pessoas... em seus livros!
A obra, o talento e o sabor dos livros da “Dama do Crime” me foram apresentados por outra dama, mas da leitura: minha avó materna, fissurada por literatura de todos os gêneros e, em especial, pelos livros da Agatha. O primeiro que ela me emprestou foi “O Caso dos Dez Negrinhos”, em 1979, quando eu era um jovem leitor de 13 anos de idade. Vibrei até a página final tentando desvendar a identidade do assassino, mas fui vencido pela técnica imbatível da Agatha. No ano seguinte, minha avó me jogou no colo “Assassinato no Expresso Oriente”, quando fui apresentado, então, ao detetive Poirot, que também me subjugou com sua astúcia. Em 1982, ela (minha avó, a “Dama da Leitura”), veio com “Um Gato Entre os Pombos” e “Cai o Pano”, que traz a última aventura de Poirot, quando ele retorna ao cenário de seu primeiro caso, a Mansão Styles, onde acaba morrendo.
Agatha Christie justificou a morte de seu personagem pela determinação em impedir que dessem sequência apócrifa e não-autorizada a suas aventuras após a sua própria morte. O falecimento de Hercule Poirot nesse livro, em 1975, chegou a ganhar um obituário, na época, na capa do jornal “The New York Times”, com direito a foto do morto ilustre! Personagens e autores consagrados podem até morrer, tanto no mundo real quanto no ficcional, mas jamais desaparecem dos corações de seus leitores fieis. Da mesma forma como avós incentivadoras da leitura.
Hercule Poirot em obituário do "The New York Times"... com direito a foto! Como assim??