POR MARCOS FERNANDO KIRST
Nas histórias em quadrinhos do universo Disney, o ganso Gastão é quem faz o papel do personagem abençoado pela sorte sem limites e seu primo, o Pato Donald, encarna (ou empena) seu oposto absoluto: azarado que chega a dar pena (de pato ou de ganso, tanto faz). A dualidade infantil dos dois personagens facilita a compreensão dos enredos nos quais eles trafegam, proporcionando a diversão simples (mesmo que genial) daquelas aventuras, concebidas para serem sorvidas por todas as faixas etárias.
Não existe, no mundo fictício da Patópolis pela qual os personagens emplumados transitam, espaço para o desenvolvimento de personalidades esféricas, duais, repletas de incoerências e inconsistências, como o que vemos no mundo real, das gentes. Por isso, não podemos conceber como seria, no mundo Disney, um personagem que absorvesse os dois aspectos dicotômicos de Donald e Gastão. Como ele seria definido? Um sortudo distraído? Um azarado cheio de uma sorte imerecida?
No mundo real, ou, ao menos, na esfera peculiar da realidade na qual o Brasil transita, esse personagem existe e está causando furor nos últimos dias, pois todos os brasileiros desejam saber a sua identidade. Ele é o absurdo sortudo que dividiu o megaprêmio da Mega da Virada, sorteado na noite do último dia de 2020, e que ainda não se apresentou a nenhuma agência da Caixa Econômica Federal, em nenhuma agência do imenso território nacional, para embolsar os seus devidos R$ 162.625.108,22. Por extenso, trata-se de uma até agora negligenciada fortuna de CENTO E SESSENTA E DOIS MILHÕES, seiscentos e vinte e cinco mil, cento e oito REAIS e vinte e dois centavos. Isso mesmo... e vinte e dois centavos!
Se não der as caras até o dia 31 deste mês de março, o dia seguinte, 1º de abril, Dia dos Bobos, pregará uma bela peça no sortudo distraído, que se tornará imediatamente azarado, pois perderá o direito de colocar as mãos na grana. Conforme as regras, os felizardos vencedores dos prêmios da Caixa têm prazo de 90 dias para se apresentarem e reivindicarem o prêmio. Esse, até agora, ainda não o fez.
Seu parceiro de sorte absoluta (a bolada da Mega da Virada foi para dois acertadores das seis dezenas mais cobiçadas do país) já retirou a sua parte. É um felizardo de Aracaju (SE). O dinheiro, se não retirado, será direcionado todo ao FIES (Fundo de Financiamento do Ensino Superior). Então, se é você o sortudo, corre lá. Ainda há três dias úteis no início da semana que vem para tornar-se um milionário, um ganso Gastão de carne e osso. Caso contrário, reivindique do Pato Donald o troféu de maior azarado de todos os universos possíveis, e sinta pena de si mesmo.