POR MARCOS FERNANDO KIRST
Um gesto simbólico permeado de emoção, sinceridade, gratidão e reverência pela memória de uma figura que cristalizou sua biografia no entrelaçamento com o universo da cultura e das artes. Foi movida por esses sentimentos que a atriz caxiense Aline Zilli, do Grupo Teatral Ueba Produtos Notáveis, esteve no distrito de Criúva na tarde do último sábado (18/7) depositando uma tiara de flores no túmulo da poeta Vivita Cartier (1893 – 1919), sepultada há 101 anos no Cemitério do Pontão.
Aline decidiu deixar, junto à cruz de ferro que adorna a peculiar sepultura de pedra (pedras especiais que “lacraram” o túmulo um século atrás, por temor da propagação da tuberculose que vitimou a escritora), a coroa de flores cênica confeccionada especialmente para sua performance de atriz principal na peça que o Grupo Ueba produziu no final de 2019, enfocando a vida e a obra de Vivita Cartier.
“Vivita, Noiva do Sol”, criada e dirigida por Jonas Piccoli, também do Ueba, esteve em cartaz em três temporadas em Caxias do Sul, de novembro de 2019 a início de março de 2020, totalizando nove apresentações e encantando as plateias com performances surpreendentes protagonizadas pela trupe (composta por Aline Zilli, Jonas Piccoli, Jacqueline Aires, Luiza Pezzi, Cristiano Cardoso, Giulian Longa e participação especial de Marcos Fernando Kirst) nas dependências do Moinho da Cascata, em Caxias do Sul.
Elenco da peça: Giulian Longa, Jacqueline Aires, Jonas Piccoli, Aline Zilli, Marcos Fernando Kirst, Cristiano Cardoso e Luiza Pezzi)
“Deixar essa coroa de flores aqui no túmulo onde Vivita descansa é uma forma de expressar meu agradecimento pela inspiração que ela segue perpassando a todos os artistas com a sua história de vida, dedicada ao desempenho e à valorização das artes e da cultura”, explica Aline. A homenagem é carregada de profunda simbologia, uma vez que Vivita, ela própria, eternizou uma imagem de si mesma no poema “Matinal”, em que se apresenta percorrendo laranjais em Criúva e colhendo flores: (“Envolta em branco vestido/ Dirigi-me ao laranjal/ Todo em flor e umedecido/ Pelo orvalho matinal./ Entre infantes aparatos/ De flores me coroei/ Depois, vestido e sapatos/ Com flores ornamentei”).
Vivita, que passou seus últimos sete anos de vida em Criúva, atrás dos benfazejos ares serranos que haveriam de aliviar seu sofrimento devido à tuberculose, intitulava a si mesma como “A Noiva do Sol” e encantava os habitantes locais com seu hábito de, no outono, costurar de volta aos galhos das árvores as folhas secas que deles se desprendiam, como em um ritual simbólico de evocação por mais vida, essa mesma vida que ela via se esvair de seu corpo enfraquecido pela doença, mas que abrigava um espírito fortalecido pela Poesia. “Devolvo a ela um pouco das flores que ela tanto amava, como companhia e como homenagem”, reitera a atriz caxiense, após o gesto de acomodar a tiara junto ao túmulo.
Documentário resgata relação de Vivita com Criúva
Aline Zilli e seu marido, o dramaturgo, escritor, diretor e ator Jonas Piccoli, passaram a tarde do sábado, dia 18, visitando diversas localidades do distrito caxiense de Criúva, gravando imagens e depoimentos para a produção de um documentário que enfocará a relação da poeta Vivita Cartier com aquela localidade. Intitulado “Vivita – Memória e Patrimônio de Criúva”, o projeto foi aprovado no FAC Digital RS (Fundo de Amparo à Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura - Sedac), em parceria com a Universidade Feevale.
Tomadas feitas no Cemitério do Pontão, em Criúva (Foto de Silvana Toazza)
O documentário terá duração de 15 minutos e contará com depoimentos de pessoas relacionadas ao resgate da vida e obra de Vivita, entre elas, o jornalista Marcos Fernando Kirst que, em 2019, no centenário de morte da poeta, lançou uma extensa biografia intitulada “O Ocaso da Colombina, A Breve e Poética Vida de Vivita Cartier”, que serviu de base para a montagem da peça teatral.
A atmosfera criuvense serviu de cenário para as gravações
Biografia da poeta, escrita por Marcos Fernando Kirst, foi lançada em 2019
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