POR MARCOS FERNANDO KIRST
A jovem moça de olhar doce e sereno pisou determinada o assoalho do salão do Kremlin que abrigava o escritório de despacho do todo-poderoso e temido secretário-geral do partido e líder máximo da União Soviética, Joseph Stalin. Ela tinha um pedido a fazer ao comandante supremo da extensa nação que, naquele segundo semestre de 1941, enfrentava, ainda atordoada, a invasão agressiva deflagrada pelas tropas alemãs em junho, intensificando os horrores da Segunda Guerra Mundial.
Mais do que um pedido, embalado em uma inabalável determinação, a pilota de aviões russa Marina Raskova (1912 – 1943), então com 29 anos e já uma heroína da aviação em seu país, admirada até mesmo por Stalin, trazia na manga uma convicção inabalável e algo muito sério a dizer. Marina, naquela sala, naquela reunião, representava um anseio profundo de todas as mulheres russas, engajadas de todas as maneiras no esforço supremo de guerra, lado a lado dos homens, para tentar refrear a máquina mortífera nazista e expulsá-los de seu território. As mulheres desejavam ir para a frente de batalha, serem participantes proativas da ação, pulando da retaguarda (onde seus esforços também eram vitais) para o enfrentamento direto contra o inimigo.
Marina Raskova (nascida, aliás, em 28 de março, o mês da mulher!) pleiteava, junto a Stalin, a criação de um regimento exclusivamente feminino de bombardeiros para atacar as linhas nazistas dentro do território soviético invadido. Daquela reunião, após muito debate, sairia a anuência oficial de Stalin para a criação do 588º Regimento de Bombardeio Aéreo Noturno Soviético (instituído oficialmente em 8 de outubro de 1941), composto por 400 mulheres pilotas, navegadoras, mecânicas e armeiras. Somente mulheres.
Marina Raskova, a mulher que enfrentou Stalin e bombardeou os nazistas
Nenhum homem envolvido em nenhuma etapa do processo, desde o comando, passando pelo treinamento e desempenhando as perigosas e mortais ações de ataque e bombardeio à Wermacht (máquina de guerra) alemã. Fizeram história e ficaram conhecidas como as “Bruxas da Noite”, tamanho o terror que infligiam às tropas alemãs invasoras com seus ataques noturnos.
Naquela reunião crucial e histórica, Marina Raskova enfileirou a Stalin todos os argumentos racionais que arregimentara para defender sua proposta. Encerrou seu discurso com uma frase advinda da convicção interna que a movia, diretamente do coração: “As mulheres podem tudo!”. A prática demonstrou a veracidade de sua fala, que era muito mais do que palavras. Não eram palavras ao vento. O vento, na verdade, foi a sustentação para os 23 mil voos de ataque protagonizados pelo esquadrão feminino, mostrando que, sim, as mulheres podem tudo, em qualquer campo de batalha em que se disponham a atuar.
No Brasil e no mundo de hoje, as mulheres ombreiam homens em uma nova guerra, tão letal quanto aquela, tão devastadora e mortífera quanto aquela: a batalha contra o inimigo da humanidade, o coronavírus. Na linha de frente do combate ao inimigo elas estão lá, de jaleco branco, luvas e máscaras, formando batalhões de combate diuturno contra o vírus, sem trégua. São médicas, enfermeiras, técnicas de enfermagem, anestesistas, fisioterapeutas, atendentes, auxiliares administrativas dos hospitais, todas elas engajadas sem trégua no duro combate pela vida. Porque sabem que as mulheres podem tudo, e, nesse momento terrível da História, depositamos nossas esperanças de vida em suas mãos incansáveis.
Nesse Dia Internacional da Mulher de 2021, nosso site externa aqui sua mais profunda admiração e seu amplo respeito por todas as mulheres envolvidas na luta contra a Covid-19, desejando-lhes ânimo, saúde, fé, coragem, energias sobre-humanas e força para seguirem nessa luta, que, sabemos, será vencida ao final. Que as palavras da heroína russa, Marina Raskova, determinada a combater o mal, lhes sirva de estímulo permanente: “As mulheres podem tudo”! Parabéns a todas!