POR JOSÉ CARLOS SECCO
Em três dias, os proprietários de restaurantes de Caxias do Sul foram de uma situação de esperança e positividade para a volta ao desespero e incerteza com relação à manutenção dos seus negócios. O movimento registrado na sexta-feira, dia 12, e, em alguns estabelecimentos, também no sábado, dia 13, em razão da comemoração do Dia dos Namorados, trouxe esperança e motivação para uma possível retomada mais vigorosa.
Mesmo com as novas normas para atendimento e as restrições com relação à capacidade e ocupação, os proprietários se empenharam e usaram a criatividade para fazer render o máximo possível a data. Na sexta-feira, praticamente não havia mais lugares disponíveis em nenhum restaurante da cidade para os casais que não haviam feito reserva antecipada. A maioria dos estabelecimentos optou por ações promocionais com a venda de “pacote fechado” para o jantar.
O resultado até empolgou muitos empresários que vinham amargando altos prejuízos nos últimos 90 dias, quando o faturamento chegou a cair mais de 80%, mesmo com o serviço de delivery. Para se ter ideia, a receita apenas do dia 12 foi equivalente à metade de todo o faturamento de maio para alguns estabelecimentos. Mas a alegria durou apenas 24 horas, já que no sábado foi divulgado o retorno de Caxias do Sul à bandeira vermelha e a obrigatoriedade de os restaurantes voltarem a trabalhar somente com delivery ou retirada.
"Momento difícil e delicado"
Marcelo Lara, proprietário do Yamboo, restaurante especializado em comida japonesa, e no ramo há mais de 10 anos, comenta que nunca havia passado por um momento tão difícil e delicado.
“Com a pandemia, o faturamento caiu cerca de 90% operando apenas com o sistema de entrega. Os prejuízos superam R$ 50 mil por mês e a volta à faixa vermelha pode levar muitos estabelecimentos à falência e ao fechamento definitivo. Estamos aplicando a máxima eficiência na gestão, mas é muito difícil sustentar essa situação por muito tempo”, explica.
Menu especial impulsionou movimento no Dia dos Namorados Foto: Claudia Nakayama
Para a sexta-feira, dia 12, o Yamboo preparou um menu especial para os namorados, com direito a duas taças de vinho, espumante ou caipirinha, cerveja e gin. Os casais foram recebidos ainda com decoração personalizada nas mesas com os nomes de cada um.
“Felizmente, alcançamos a ocupação máxima permitida (50% da capacidade total) e atendemos cerca de 50 pessoas, com faturamento equivalente à metade do de maio, mas menos da metade do movimento do Dia dos Namorados de 2019”.
Queda no movimento já tem dois anos
O setor de restaurantes em Caxias do Sul já vinha sofrendo com a queda de movimento desde 2018. A crise econômica vivida na região entre 2014 e 2017 transformou os hábitos dos caxienses, que passaram a comer menos fora e também a gastar menos, optando por restaurantes mais econômicos, como as praças de alimentação.
“A queda vinha sendo de 10% por ano, mas, com a pandemia e o isolamento social, a situação se agravou muito”, comenta Marcelo.
Para sobreviver, o Yamboo cortou as despesas ao máximo, demitiu quase todos os profissionais e manteve apenas o quadro essencial de funcionários.
“Pelo nosso estilo de trabalho e qualidade, decidimos manter o nosso ótimo sushiman, um dos melhores de Caxias, o cardápio e os mesmos ingredientes de qualidade, como salmão verdadeiro e de procedência conhecida, arroz e algas importadas para os sushis, makis e hossomakis. Mas existem custos fixos que praticamente não reduziram, como aluguel, luz e IPTU”.
Agora, com a volta à bandeira vermelha, Marcelo e a maioria dos proprietários de restaurantes vão voltar à corda bamba e à missão quase impossível de fazer o orçamento caber na receita.
“Será como colocar todo o Brasil no Rio Grande do Sul! Para sobreviver, vamos diversificar ainda mais o atendimento e lançar um site de tele-entrega”, enfatiza Marcelo
A explicação é simples. Apesar de o volume de pedidos por delivery ter aumentado bastante, a oferta e as promoções cresceram bem mais, o que fez com que a receita também caísse. Hoje, pouquíssimos restaurantes que eram focados no atendimento presencial diferenciado conseguem se manter apenas com o delivery.
Além de não terem esse foco antes da pandemia, depois dela, a concorrência se acirrou muito e alguns preferiram baixar o nível de qualidade para reduzir preços, atrair o consumidor e “ganhar" dos concorrentes. Nesses tempos de pandemia, sem data para o "o novo normal", o momento requer estratégias e capacidade de reinvenção, sabendo que o equilíbrio financeiro é desafiador.