Caxias do Sul 26/11/2024

“Acreditamos que o mercado mais atingido vai ser o do turismo”, diz administradora de vinícola da Serra

Sócia da Courmayeur revela estratégias como entrega a domicílio de vinhos e delivery de almoço harmonizado na Sexta-Feira Santa para contornar parada nos negócios
Produzido por Silvana Toazza, 07/04/2020 às 14:25:53
“Acreditamos que o mercado mais atingido vai ser o do turismo”, diz administradora de vinícola da Serra
Mario Verzeletti, pai de Gílian e sócio da Courmayeur, grife de vinhos e espumantes de Garibaldi
Foto: Fotos Daniel Schüur

O momento era digno de roteiro de filme. A Courmayeur Espumantes e Vinhos, encravada no Vale dos Vinhedos, na faixa pertencente a Garibaldi, vinha avançando rapidamente no enoturismo. O roteiro de visitação chamado Cela da Cave, unindo história, degustação e experiência, coroava esse contexto de ouro.

Ao lado disso, a safra de uva 2019/2020 era enaltecida pela excelente qualidade, considerada uma das melhores das últimas décadas, com 400 toneladas de frutas processadas. Mas, então, veio o período de restrições para minimizar a propagação do coronavírus. E a vinícola precisou se reinventar.

“O cenário já se desenha com dificuldades por parte de alguns clientes para cumprir os prazos de pagamento, o que dificulta nosso fluxo também”, admite Gílian Nicolini Verzeletti, administradora da Courmayeur.

Entre as novidades para a temporada de isolamento social, a Courmayeur passou a oferecer a clientes de Garibaldi e Carlos Barbosa entrega a domicílio de caixas de vinhos e espumantes, sem cobrança de frete. Para esta Sexta-feira Santa (10), o La Fermata Bistrô, localizado junto à vinícola, disponibilizará delivery para o almoço em Garibaldi, Bento Gonçalves e Carlos Barbosa, cujos pratos são harmonizados com rótulos Courmayeur.

O cenário de insegurança não tira a esperança de que o consumidor será surpreendido com a safra 2020 de vinhos e espumantes, além de outras novidades já enroscadas. E que o horizonte reserva muito potencial de expansão para o setor vinícola e turístico da Serra Gaúcha. Por ora, o momento é de organizar os negócios e afinar as estratégias junto ao consumidor com vistas a um futuro que ainda é incerto, mas que pode representar colheitas interessantes e ressignificações empresariais.

A seguir, entrevista para a seção “Conversa Afiada” com Gílian Nicolini Verzeletti, administradora da Courmayeur Espumantes e Vinhos.

Como a Courmayeur avalia a safra 2019/2020?
Para a equipe de elaboração de vinhos e espumantes da Courmayeur, a safra 2020 é uma das melhores já vistas. As uvas estavam maduras e sãs, com uma concentração de açúcar muito boa. A qualidade das uvas moscato, chardonnay e pinot noir para elaboração de vinhos base para espumantes estava excelente. Temos vinhos base diferenciados das safras anteriores.

A qualidade dos vinhos promete?
Com certeza. O resultado da safra 2020 foram vinhos base para espumante excepcionais, que fazem parte do portfólio da Courmayeur, além de vinhos brancos, para alegrar o próximo verão, e pequenas parcelas de vinhos tintos, com bastante estrutura e coloração, que assim que estiverem maduros serão envasados e estarão disponíveis para os consumidores.

De que forma a crise na saúde e a quarentena impactarão nos negócios da empresa?
Ainda está difícil mensurar. O cenário já se desenha com dificuldades por parte de alguns clientes para cumprir os prazos de pagamento, o que dificulta nosso fluxo também. Mas acreditamos que o mercado mais atingido vai ser o do turismo, que está completamente sem atividades e sem uma indicação de retomada para o período próximo.

Que estratégias foram desenvolvidas para que os prejuízos fossem atenuados nesse período?
Consideramos prejuízo tanto a perda na saúde de todos quanto o financeiro. Mantivemos em atuação a equipe mínima necessária para a empresa garantir os produtos em elaboração, enquanto a todos os demais foram concedidas férias. No âmbito financeiro, estamos buscando parcerias com lojas para incentivar o consumo dos nossos produtos nas casas dos clientes. Novas estratégias estão em desenvolvimento, para facilitar ainda mais a aquisição e melhorar o fluxo também.

Para 2020, quando o mercado retomar, quais os planos para o enoturismo?
Fortalecer as antigas parcerias e criar oportunidades para pessoas das regiões mais próximas conhecerem nosso espaço. Além disso, dar sequência aos projetos que já estavam em andamento (inclusive com lançamento agendado) anteriormente a esta crise.

Como você avalia o mercado vinícola brasileiro?
Em crescimento e aprendizado. Ainda temos muito a crescer, pois o grande desafio é aumentar o consumo dos vinhos e espumantes aqui no Brasil. As diversas iniciativas que foram feitas nos últimos anos em relação à valorização dos vinhos brasileiros já deram muitos resultados. E a cada dia nosso sistema vitivinícola nos surpreende, mostrando que temos todas as condições de evoluir e oferecer aos consumidores produtos que altíssima qualidade, com características próprias do nosso magnífico terroir.

Os rótulos importados ainda representam ameaça?
Não diria ameaça. Mas, sim, continuam presentes na concorrência. Apesar da excelente qualidade dos produtos nacionais, o consumidor ainda tende muito a valorizar o importado. Talvez, com a alta do dólar, o consumidor sinta-se mais estimulado para provar os vinhos nacionais e descubra a qualidade incrível que temos a oferecer.

Quais as grandes conquistas e lacunas do setor?
Acreditamos que o apoio das entidades (como o Sebrae) estão sendo importantíssimos para o setor, além da união das próprias empresas. Como falhas, percebo a dificuldade da logística (alto custo), de disponibilidade de informações necessárias, principalmente na área tributária. Mas o que mais penso que seja necessário é que, apesar da grande representatividade econômica que a atividade vitivinícola tem na nossa região, este fator não se repete no cenário nacional, onde a atividade não tem representação. Isso acaba fazendo com que muitas vezes ela “sofra” para que outras tidas como mais importantes se fortaleçam, desestimulando e dificultando ainda mais a vida do setor.

Quais os planos de expansão?
Queremos continuar investindo na área do turismo, ampliando nossa produção de espumantes (sempre dentro da nossa já tradicional qualidade) e crescer em nossa linha de vinhos finos. Continuamos focados no mercado nacional, pois temos potencial para abrangê-lo ainda mais.