POR MARILIA FROSI GALVÃO
“Olha só que coisa mais linda do mundo !!!” – disse-me o vendedor de flores – parado na minha frente – com um maço em cada mão: rosas vermelhas e flores do campo. Coloridas, belas, frescas, viçosas. Vi-ço-sas. Respondi a ele – “na volta”. Estava apressada. Quase atrasada para a sessão de tratamento da pele. Sempre há novidades nessa área – para hoje seriam cuidados inspirados na Beleza Grega – um combo de técnicas milenares com as mais modernas: limpeza, esfoliação, máscara hidratante, massagem facial e, para finalizar, “névoa do Mar Egeu”.
Sim. Sim. Sim. Em busca do viço perdido. Porém, com a sabedoria das flores, há o tempo de resplandecer e o tempo de murchar, vá lá, desde que seja com dignidade. Encaro esse processo com seriedade – e acredito que a beleza esteja também nas rugas hidratadas e nos cabelos brancos com brilho próprio. Há vida ali, e histórias. É o auge.
Porém, será mesmo tão simples assim?
Cabelos e unhas feitos no salão, maquiagem, uma roupa elegante, cremes caríssimos, perfume, joias e outros adereços tornam uma mulher desejável. Em qualquer idade. Certamente. Porém, são fatores externos – artificiais. Não revelam, ou mascaram, a verdadeira saúde de uma mulher. Se velha ou idosa – ou mais elegantemente dizendo – um pouco mais velha - e ainda assim há controvérsias: alguns novinhos resumem como “mulheres experientes”, o que define algo duvidoso... porém, não menos lisonjeiro. Aqui explicito minha indignação com as palavras “velha” ou “idosa”. Ofendem. A mim, pelo menos. Geralmente utilizadas no modo “pejorativo”. Ora, todos temos um nome, que se diz nome próprio. E, oxalá, envelheçamos com saúde e mudem a forma de encarar essa fase da vida humana. Somos todos frágeis, com mais anos vividos ou não. Precisamos nos cuidar. Ah... pois então...
...a não ser que a morte nos leve precocemente, o envelhecimento é inevitável, mas pode ser um tempo de vida produtivo, prazeroso, e, além do mais, contamos com o amparo da Ciência – especialmente na área da saúde. Diz-se vida com qualidade.
A Ciência estabelece dois tipos de envelhecimento: o envelhecimento cronológico - idade cronológica é a idade que você tem. E o envelhecimento biológico – idade biológica é aquela que você aparenta ter. Seus hábitos de vida irão determinar isso. A longevidade.
A longevidade, ou sinônimo de envelhecer bem – tem por base o QUADRIPÉ ou os QUATRO PILARES: 1 - exercício físico (volumes e intensidades adequadas à sua individualidade biológica), 2 - alimentação saudável, 3 - sono de qualidade e 4 - saúde mental (abordando aspectos cognitivos e psicológicos).
Esses quatro pilares citados são comprovados cientificamente como um “pacote” de saúde, pois a evolução da medicina – e de tantas outras ciências – é contínua e intensa. Sempre há novas descobertas. Gosto, particularmente, da mudança de postura dos médicos: “a senhora pratica exercícios físicos?” como a primeira pergunta da consulta. E, com orgulho, eu respondo “sim” – quatro vezes por semana! Hummmmm! Bommmmmm.
Simone de Beauvoir, filósofa existencialista francesa, publicou um livro, um grande e primoroso ensaio intitulado “A Velhice”, no ano de 1970. Nesse ensaio, a autora esmiúça o envelhecimento em todos os seus aspectos. Desde então, essa obra serve de referência a médicos, geriatras e outras especialidades medicas e profissões que trabalham ou tratam essa fase da vida humana. Diz-se que é um livro atemporal, ainda hoje, 54 anos após a edição, é considerado atual e imprescindível.
Infelizmente, em alguns aspectos, pareceu-me que não houve mudanças no tratamento dado aos “velhos”.
Como reflexão, convido meu leitor e leitora para observar o modo como a sociedade atual trata os idosos... Se, por vezes, é de forma bastante cruel... Se a sociedade moderna é competitiva, produtiva, machista, narcísica, se... por essas circunstâncias, supervaloriza a beleza dos corpos e da juventude ao ponto de afastar os mais velhos do mercado de trabalho... E haveria tanto mais a refletir... Simone foi brilhante em seu ensaio: com dois pontos de vista: um externo (como os governos e a sociedade veem os mais velhos, desde a Antiga Grécia até a década de 1970 – com dados estatísticos) e um interno (subjetivo – como o envelhecer nos toca em nosso íntimo).
Palavras de Simone – por Simone:
“Paris, 1970. Eu, Simone de Beauvoir, atento para a velhice... quero compreendê-la, sabê-la, senti-la, e sobretudo entendê-la em suas relações com o mundo – por isso escrevo. Sabe, percebi o quão diferente cada ser humano enxerga e encara a chegada da idade... É engraçado às vezes... Ora, são tantos sabores e dissabores, não é verdade? Eu vejo a velhice não como um fato estático. Ela é o término e o prolongamento de um processo. É transformação...”
Tenho pensado muito, ultimamente, no passar do tempo em minha vida. Concordo com Beauvoir no que diz sobre a subjetividade do envelhecimento. Contudo, de 1970 para 2024, a ciência evoluiu espantosamente e temos inúmeros benefícios que podem nos auxiliar tanto em beleza, quanto em saúde. O conceito antienvelhecimento enfoca os cuidados para bem envelhecer. Não faz o tempo parar. Todavia, faz com que nossa idade biológica seja menor que a idade cronológica. Nos Quatro Pilares citados = exercícios físicos + alimentação saudável + sono de qualidade + saúde mental, as práticas são intransferíveis. Ninguém poderá realizá-las por nós, apenas orientar. São os nossos “temas de casa”. Estudar, aprender a lidar com emoções, aceitar que os sinais da passagem do tempo não são um problema, são naturais. Há uma loucura generalizada em busca da beleza estética e procedimentos chamados de harmonizações faciais, os quais podem apresentar um resultado muito diferente do que se espera, muitas vezes. (Não sei se é impressão minha, mas parece-me que a obsessão pela “fonte” da juventude tem apresentado rostos muito parecidos – muitas pessoas perdem a identidade com os rostos preenchidos e lábios inflamados.) Menos pode ser mais.
Por essas e outras, pode parecer fácil manter-se jovem, com tantos recursos disponíveis, mas é difícil e complicado o envelhecer. Porque há uma cultura de cobranças. Estatisticamente, estamos envelhecendo. Mas podemos ter uma vida que valha a pena. Podemos aprender muito com a informação a um toque de dedo. Podemos escolher o que é prioridade, se a morte é certa (para todos). Já que não levaremos nada daqui, que tal o perdão, as boas memórias e algum legado imaterial – de amor – de atitudes.
Se... o espelho revelar os pés-de-galinha, o código de barras, o bigode chinês, as rugas de marionetes... ahhhh, eufemismos , não entre em desespero. É natural.
Se... a morte é certa, o que é prioridade?
Se... sentir desamparo e incômodos da menopausa, procure ajuda.
Se... tomar muita água, hidratará sua pele – de dentro para fora –, assim os cremes terão a eficácia prometida.
Se... quiser ser feliz, mexa-se. Faça algo. Mesmo que não dê certo. A inércia é morte.
Se... tiver coragem, sem receio da opinião dos outros, saia com aquele novinho que poderia ser seu filho. Não espere que a entendam, mas exija respeito.
Se... puder, pare de abrir mão de certas coisas (na minha idade não posso) para não magoar os outros.
Afinal, o que faz a vida valer a pena?
Já que... nada é para sempre?
Sugestão de resposta – amor-próprio e pilares para uma vida saudável.
Na volta, como prometi ao vendedor de flores, comprei as rosas. Sentindo a pele viçosa como as pétalas delas, e o rosto “envolto” nas brumas do mar Egeu. Pensei na rosa do Pequeno Príncipe, que demorou para ficar pronta, precisou alisar as pétalas uma a uma, pois não poderia apresentar-se amarrotada como os cravos...
P.S. Para compor este texto, contei com a assessoria de Alexandre Frosi Galvão – Profissional de Educação Física pela UCS, Especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Estácio e Graduando em Nutrição pela Universidade Cruzeiro do Sul.
Marilia Frosi Galvão é professora, escritora e cronista. Tem dois livros publicados: "Fagulhas" e "Tudo é Momento".
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